1-Um dia eles vieram e, sem nos pedir licença, ergueram um parede de cimento e tijolos junto de nosso muro, sem guardar nenhum afastamento lateral, tirando o nosso direito de visão, que conquistamos pela moradia contínua e ininterrupta neste lugar por mais de cinco anos, alguns por mais de dez, outros mais de quinze, outros mais de vinte ano.. E nós não dissemos nada;
2-No outro dia eles vieram e construíram toda área do terreno , destruindo toda a cobertura verde do terreno, não reservando nenhum percentual livre , privando- nos de direitos que gozávamos há mais de cinco, dez, quinze e até vinte anos. E nós não dissemos nada
3- No outro dia eles vieram e eliminaram o habitat de nossos passarinhos, privando-nos de ouvir seus cantos em nossas janelas . E nós não dissemos nada;
4- No outro dia eles vieram e começaram a construir um prédio , onde antes existia uma casa térrea, retirando nosso direito de claridade privacidade, conquistado há vinte anos. E nós não dissemos nada;
5- No outro dia eles colocaram seus empregados para trabalhar todos os dias na obra, dias úteis e não úteis, inclusive em horários inapropriados, produzindo barulhos ensurdecedores, com uso de betoneiras, serras elétricas, caminhões amassadores de concreto, marteladas, tirando-nos o direito de sossego e de nossa paz que gozávamos há mais de cinco, dez, quinze, e até mais de vinte anos. E nós não dissemos nada;
6-no outro dia eles passaram a emporcalhar com pó de cimento e de serragem os nossos pátios e nossas casas, tirando o nosso direito de limpeza, que gozávamos há mais de cinco, dez, quinze e até mais de vinte anos . E nós não dissemos nada;
7- Assim, eles, dia a dia, nos foram subtraindo um a um nossos direitos adquiridos. E nós não dissemos nada.
8- Até que não tardará, chegará o dia que conhecedores de nossas fraquezas, de nossa falta de ânimo para lutar, de nossa falta de iniciativa, de nosso medo, o mais fraco deles, invadirá nosso jardim, matará o nosso cão e arrancará de nossas gargantas a nossa voz. E nós não diremos nada, já que eles roubaram a voz de nossa garganta. .
( poema africano, declamado por Patrice Lumunba, primeiro ministro assassinado do Congo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário